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Vida de Figurantes que deram certo

Eles entram mudos e saem calados, mas sem sua presença não existiriam novelas, séries, filmes, comerciais nem mesmo programas de auditório. Já imaginou "Os Dez Mandamentos" sem a legião de figurantes atravessando o Mar Vermelho sob às ordens de Moisés? Ou o navio de "Terra Nostra", vazio, tendo como passageiros somente Ana Paula Arósio e Thiago Lacerda? Contracenando com grandes astros e estrelas da dramaturgia, eles são peça fundamental nas produções televisivas e cinematográficas.
A vida desses operários do mundo artístico, no entanto, não chega a ser glamourosa como a das divas que encabeçam os créditos. Sílvia Gomes e Sílvio Santana trabalham como figurantes na novela "Pequena Travessa", produção do SBT em parceria com a Televisa mexicana. A maratona de gravações começa cedo. Um ônibus sai da estação Barra Funda do metrô rumo a Osasco – onde ficam os estúdios – às 6h da manhã. O trabalho tem hora para começar, mas os figurantes nunca sabem ao certo quanto tempo vai demorar cada cena. "Já cheguei a voltar para casa às 23h", lembra Sílvia. "O pior de tudo é esperar a preparação do set. A gente gasta mais tempo na expectativa que em ação. Gravamos um dia inteiro para aparecer, no máximo, cinco minutos", reclama o baiano Santana.
O figurante, que mora em São Paulo há 10 anos, teve o talento descoberto quando trabalhava em uma padaria, há quatro anos. A partir daí, ele não parou mais. "Fiz figuração no quadro do Pitibicha, na novela ‘As Filhas da Mãe’ e em programas de auditório." Isso mesmo, a produção do Jô Soares, por exemplo, escolhe rostinhos bonitos para ficarem na primeira fila da platéia. O cachê é o mesmo de um dia de gravação de novela, por volta de R$ 50 diários. Sílvia começou como modelo e trabalhou fazendo pegadinhas com o Sérgio Mallandro, na Gazeta. "Faço mais pelo amor à arte", conta a moça, que quer ser atriz, com direito a fala. "Hoje não podemos abrir a boca porque não temos registro profissional de ator, só de figurante", explica.
Para ganhar o famoso DRT – a sigla da Delegacia do Trabalho, que acabou virando sinônimo de carteira de ator – é preciso fazer um curso profissionalizante ou passar por um teste no sindicato da capital. Mas tudo isso custa caro. "Tenho de escolher. Ou eu faço o curso ou eu pago meu aluguel", lamenta Santana, que também desfila e até pensa em posar nu para engrossar o orçamento. Sílvia já até pensou em fazer outra coisa na vida. O problema é que a vocação artística nunca a deixa em paz. "Apesar de eu já ter meus dedos esmagados em uma cena com o Mallandro, é a única atividade que consigo exercer", confessa. Ela, mesmo sem um papel de destaque, já ganhou até um fã-clube no interior de Minas Gerais.
Seu colega Santana também já viveu seus bem mais que cinco minutos de fama. "Quando volto a Araci, minha cidade na Bahia, o pessoal me pede autógrafo e até já fui convidado para me candidatar a vereador por lá", garante. "Aqui em São Paulo já me pararam na rua e até me reconheceram no metrô da Liberdade." 
Meca das novelas e da figuração - O gaúcho Nilo Cunha da Silveira, de 62 anos, mora na Meca das telenovelas, o Rio de Janeiro, há 40 e começou a trabalhar como figurante por acaso. Foi levar um de seus filhos, Bruno – hoje com 15 anos – para fazer um teste para o filme "Tainá, Uma Aventura na Amazônia" quatro anos atrás. O menino não passou, mas o produtor da agência acabou tirando uma fotografia de Nilo. Dias depois, ele foi convidado a fazer figuração na novela "Torre de Babel". "Quando me aposentei, fiquei estressado de não fazer nada. Acabei topando e fiquei empolgado de ver todos aqueles artistas", lembra.
"Não sei como seria minha vida sem fazer isso", confessa. O que ele ganha com os trabalhos de figurante – em média R$ 700 por mês, gravando 3 vezes por semana – complementam a aposentadoria de comerciário. A rotina, no entanto, não é nada fácil. Quando a gravação acontece pela manhã, Nilo, que mora no bairro de Copacabana, tem de acordar às 5h e pegar dois ônibus para chegar aos estúdios da Globo.
Atualmente, Nilo faz parte do cast de 10 agências e já trabalhou em "O Clone" (na qual ele fez um padre), "Casseta & Planeta", "Os Maias", entre outras. E isso sem contar alguns filmes, como "O Xangô de Baker Street", e comerciais.
A empolgação com o trabalho foi tão grande que Nilo resolveu se profissionalizar. Ele conta que há um ano e dois meses tem o registro de modelo, manequim e figurante em sua carteira de trabalho. Embora não tenha a pretensão de se tornar ator, Nilo já sentiu o gostinho da fama. Em uma gravação para a novela "Uga Uga", ele deu autógrafos para as crianças que assistiram à cena. "No papel, rabisquei: um abraço do padre de ‘Uga Uga", lembra.
Rodrigo Guimarães nasceu em Minas Gerais e também resolveu tentar a vida na Cidade Maravilhosa, mas antes disso passou por São Paulo. A idéia de deixar sua terra natal surgiu depois de assistir ao Jô Soares. "Foi um programa no qual o Oswaldo Montenegro falava sobre um curso de teatro. Liguei, consegui fazer um teste e passei", lembra. Na capital, onde também fez comerciais, Rodrigo morou no porão de uma pensão. "O quarto era do tamanho de um banheiro", lembra, decepcionado com o mercado de artes. Depois de três anos em São Paulo, Rodrigo resolveu tentar a sorte no Rio. "Comecei a trabalhar com figuração no início de 2001 por não ter conseguido uma opção como ator." Ele já participou de "A Grande Família" e "O Clone". Rodrigo, que faz mais de 20 gravações por mês, também já foi fiscal de figuração. "Um fiscal ganha uma diária para coordenar os figurantes", explica. Com esse trabalho, conseguiu contatos com os assistentes de direção de algumas novelas. "Eles podem precisar de elenco de apoio. E aí, quem sabe..."

-Matéria publicada na Revista Quem-

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